Livro do amigo e do Amado
amigo: alma devota
Amado: Deus
1. O amigo perguntou a seu Amado se havia n'Ele alguma coisa ainda por amar. O Amado respondeu-lhe que sim: ainda restava por amar aquilo que podia multiplicar o amor do amigo.
2. Os caminhos pelos quais o amigo busca seu Amado são longos, perigosos, povoados de considerações, de suspiros e de prantos, e iluminados de amores.
3. Juntaram-se muitos para amar a um Amado que a todos cumulava de amores. Cada um deles tinha plenamente para si o Amado e seus prazerosos pensamentos, que lhes traziam gozosas consolações.
4. Chorava o amigo e dizia: - Quando chegará a hora em que cessarão no mundo as trevas e os caminhos infernais? E quando a água, que costuma descer, ganhará a tendência natural de subir? E quando será em maior número os inocentes que os culpados? Ah! quando se gabará o amigo de morrer pelo seu Amado? E quando o Amado verá o amigo fenecer pelo seu amor?
5. Disse o amigo ao Amado: - Tu que cumulas o sol de esplendor, cumula meu coração de amor. Respondeu-lhe o Amado: - Se não estivesses já repleto de amor, não estariam teus olhos em pranto, nem terias vindo a este lugar para ver o teu Amado.
(Raimundo Lúlio - O Livro do Amigo e do Amado)
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